SALTA
Quem deu início ao cultivo de uvas nos Vales Calchaquíes, região de mais de 500 quilômetros de extensão nas províncias de Salta, Tucumán e Catamarca, foram os jesuítas. Eles trouxeram as primeiras mudas, por volta de 1580, e logo começaram a produzir vinho para consumo próprio.
A imigração europeia, acentuada ao longo do século 19, reforçou o hábito e trouxe outras variedades de uvas à região. A malbec veio com a cabernet sauvignon e se mostrou mais adaptável. Mas a grande vitoriosa foi a torrontés, variedade branca que se desenvolveu por ali mesmo, resultado da mescla de cepas europeias como a moscatel com uvas criollas, locais.
Hoje, a região de Salta é conhecida no mundo pela produção do vinho torrontés, que se destaca pela textura macia, acidez moderada e sabor bastante concentrado. A explicação para o seu sucesso é justamente a altitude: os vinhedos chegam a ser cultivados a até 2,7 mil metros acima do nível do mar.
A combinação de menor pressão atmosférica e raios solares mais fortes faz com que a folha da videira elimine água, concentrando elementos que dão sabor à uva. Além disso, o tempo seco – costuma-se dizer que, por ali, são 350 dias de sol por ano – diminui a chance de pragas ou fungos nas plantações.
Um dos produtores é Mário Peña, da Bodega Peña Veyrat Durbex labodegadecafayate.com), que também tem um hotel para receber hóspedes e restaurante para quem quiser almoçar e provar seus vinhos.
Além da variedade regular, Peña também faz o torrontés tardio, mais doce, recomendado para sobremesa. No local, cada garrafa custa cerca de R$ 20. “A cada dia aparece uma bodega diferente, com um novo vinho. Nós mesmos começamos em 2006 e já vendemos 30 mil litros por ano. A procura pelo vinho de Salta só aumenta”, diz.
Como no passado. Em 1609, o general espanhol Martín Miguel de Güemes quis construir uma casa para sua irmã mais nova. É desse ano que data o título de posse de um enorme terreno no departamento que leva seu nome, General Güemes, a 50 quilômetros de Salta. A casa tem estilo colonial, portas centenárias, pátio interno e uma torre para se proteger de ataques indígenas. Hoje, ainda nas mãos da mesma família, virou pousada.
“Isso começou na década de 1970, quando meus sogros começaram a receber amigos de parentes como hóspedes”, conta uma das donas da Estância El Bordo de Las Lanzas estanciaelbordo.com), Magdalena Figueroa de Arias. O lugar respira história: artefatos pré-colombianos encontrados ali são expostos na entrada, e a biblioteca tem livros jesuítas do século 18. Tampouco faltam opções de lazer – Magdalena pode marcar tours pelos pampas com gaúchos autênticos, um jantar romântico, passeios pelas quebradas… A diária custa cerca de US$ 200 o casal, com refeições. / RODRIGO BURGARELLI